E ASSIM SE PASSARAM 40 ANOS
@ No sábado, 12 de abril de 1975, comentei em minha página semanal em Zero Hora o primeiro disco do Almôndegas. O show de lançamento estreara na sexta e seguiria até domingo no Teatro Leopoldina. O saudoso Leopoldina tinha mais ou menos a mesma capacidade do Teatro do Sesi. Que artista gaúcho lotaria hoje três dias o Teatro do Sesi? A coluna também destaca Jorge Mautner no Gigantinho (!!!), no mesmo dia 12, com o Bixo da Seda fazendo o show de abertura. Obrigado, Kledir Ramil. Depois tu me conta o segredo da eterna juventude… Juarez Fonseca em 11 de abril de 2015 ·
TRANSCRIÇÃO DO TEXTO
O disco está lançado, a sorte também.
A receptividade, no Rio Grande do Sul, já está clara: as emissoras de rádio estão tocando várias faixas e, embora o elepê só chegue às lojas na segunda, uns poucos exemplares distribuídos para divulgação conseguem fazer as pessoas pararem para ouvi-los, nós alto- falantes da Rua da Praia. Não poderia ser diferente, porque desde o inicio, há um ano, quando o Almôndegas distribuiu uma fita para alguns críticos (desde aquela época composições como Até Não Mais são executadas em rádio), mostrando sua intenção de gravar e profissionalizar se, foram recebidos com simpatia e disponibilidade.
Eram bons; faziam uma música bonita e honesta. Agora o disco, gravado pela Continental, uma das empresas que mais tem prestigiado grupos novos, encerra, a primeira etapa da batalha. Então é natural que medir, Kleiton, Quico, Gilnei e Pery estejam felizes, porque além de tudo seu elepê tem muitas possibilidades de chamar a atenção do público de Rio e São Paulo, principalmente, que são os maiores mercados consumidores do país. O show que estreou ontem e prossegue hoje e amanhã no Teatro Leopoldina, é uma amostra ao vivo da gravação, mas talvez não dê uma imagem real do Almôndegas hoje, militas luas depois das intenções e das composições trabalhadas para o disco. Isso também é natural, para uma primeira gravação, pois somente agora se poderá ver o trabalho do grupo como uma Sequência.
A característica do som do Almôndegas parece ser o bom humor. Desde a primeira faixa, Sombra Fresca e Rock no Quintal (de Zé Flávio), que mostra, sem maiores grilos, a perplexidade do urbanóide diante do fim da natureza na cidade, passando por ‘Teia de Aranha’ (de Kledir, o autor da maioria das músicas), com, mais uma vez, a critica ao progressismo “que engoliu a nossa paz, a teia, que engoliu a própria aranha” e até Daisy My Love, construída corretamente sobre o tema ¡á bastante explorado (mas não desatuaI) dos nomes e produtos estrangeiros em nossa cultura tropical, esse bom-humor mostra-se evidente.
Mas outras faixas também são atraentes para o ouvido: Até Não Mais, com uma melodia muito bonita e um bom final instrumental, certamente será sucesso; Olavo e Dorotéia (Uma Louca Estória de Amor) poderia ser melhor se não tivesse as indefectíveis violinadas dos maestros de estúdio, que sistematicamente descaracterizam composições: Quadro-Negro, com ótima percussão e límpidos toques de violão e viola de 12 cordas; Gõ, que repete os violinos, tem uma melodia agradável mas talvez demasiadamente adocicada. Almôndegas é outra das forças do elepê, com uma letra de frases que não cabem na melodia, intencionalmente , e uma linguagem caipira de efeito interessante. Para o fim ficam Vento Negro, bela melodia de Fogaça com boa interpretação; Clõ (de Diniz/Toninho Duarte), também agradável e Amargo, de Lupicínio Rodrigues (“Amigo boleia a perna/Puxa o banco e vá sentando,..”), que eu acho muito oportuna, com bom arranjo. Mas prestem atenção nas violas, que podem transformar-se na marca registrada do som do grupo, com influências bem mescladas de toadas gauchescas, caipiras e som folks. Eu gostei e acho que muita gente vai gostar também.
CAPA DO DISCO