Relicário do Rock Gaúcho

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[REVIEW] O Rock Gaúcho mostra sua força no Rock Unificado III

‘Rock gaúcho mostrou sua força’, por Luiz Paulo Santos, publicado em 14 de setembro de 1987, dois dia após 14 bandas de Porto Alegre mostrarem seus trabalhos no 3º Festival Rock Unificado, que aconteceu no dia 12 de setembro de 1987. Nesta matéria ilustra o cenário do rock feito em Porto Alegre. Bandas Astaroth, Os Eles, Os Replicantes, Bandalieira, Defalla, Taranatiriça, Suspiram Blues, TNT, Apartheid, Os Cascavelletes, Prize, Julio Reny & Expresso Oriente e Natura Neon. Logo abaixo, o texto para leitura. Fonte: editorial do ‘Segundo Caderno’ no jornal ZERO HORA, 14 de setembro de 1987.

ROCK GAUCHO MOSTROU SUA FORÇA. Por LUIZ PAULO SANTOS (transcrição)

Quase seis horas ininterruptas de musica não é moleza. mas foi esse o tempo de duração d, III Rock Unificado. que no últmo sábado reuniu. no Gigantinho. as 14 bandas de maior expressão do rock gaúcho da atualidade. sem desmerecer. é claro, as demais. que ficaram de fora do evento. Nenhum outro show de rock de bandas locais mereceu, este ano. o trabalho de produção montado para o festival. Foram investidos dois milhões de cruzados, divididos em publicidade. Iluminação, aparelhagem de som, palco, equipe de pessoal e cachê dos grupos. Foram 2f5 mil watts de potência sonora e 290 mll de potência luminosa (distribuída por 246 spots e cinco canhões) para realçar a performance dos grupos que se apresentaram. A Atlântida FM., que transmitiu flashes do show, gravou um especial que será oportunamente apresentado. Os promotores do Unificado pretendem gravar um disco com uma música de cada grupo que participou do evento.

O primeiro grupo a subir ao palco. às nove horas e alguns minutos, foi o Astaroth. considerada a melhor banda de heavy metal do Rio Grande do Sul. Fez jus ao rótulo. com o desempenho típico das bandas de metal pesado. onde não faltaram explosões de fogos de artifícios e Mini alucinados das competentes guitarras de Ivan Zukauskas e Marcelo Foniazirer. Urso, o baixista. não parava quieto: Arbo, na bateria. arrancava trovões e Guto, net voz, mexia com a plateia. Por falar nisso. o público desta vez foi menor do que nos festivais anteriores. Devia haver, no máximo, cerca de sete mil pessoas no Gigantinho, contra as 10 mil do primeiro festival e 12 mil do segundo. Os trajes identificavam as preferências de cada um: misturavam-se metaleiros, darks. punks. hippies. rock’n’rollers. todos muito bem produzidinhos e aplicadinhos.

A seguir vieram Os Eles. que antes de iniciar sua apresentação prestaram uma homenagem ao poeta Carlos Drummond de Andrade. declamando um trecho do poema “E Agora José”. Mas a empolgação começou depois que entrou no palco a banda Taranatiriça. fazendo um rock’n’roll básico carregado de energia. O Gigantinho dançou ao som do Tara. que em quatro músicas provou tratar-se de uma das melhores bandas de rock do País. E de se destacar, ainda, o excelente trabalho de Marcelo Truda na guitarra. Outro grande destaque da noite foi a apresentação dos Cascavelletes que assim como as bandas Frise. Apartheid, Suspiram Blues e Júlio Reny foram escolhidos pela Imprensa especializada por voto direto — de uma relação que Incluía mais de SO grupos do rock gaúcho —. para participar do III Rock Unificado. Os Cascavelletes estiveram Impecáveis. tanto nas musicas como nos trajes: estavam todos de termo e gravata. Apesar da censura sistemática que as canções do grupo vêm sofrendo. é bem provável que ainda este ano os Cascavelletes já estejam de contrato assinado com uma grande gravadora internacional. Merecem.
Aliás, este é o grande mérito de eventos dessa natureza. O som que rolou ontem no Gigantinho foi observado por diversos representantes de gravadoras e da mesma forma como nas duas primeiras edições do Rock Unificado, multas bandas poderão ter seu esforço ser compensado na forma de um contrato. Foi assim com os Replicantes. Engenheiros do Havaí, TNT. DeFalla e Garotos da Rua. todos contratados pela gravadora RCA. projetando o rock gaúcho no cenario nacional

Terminado o show dos Cascavelletes. que faz um rockabilly de altíssimo nível (alguns dizem que é punkabily pornô). foi a vez do TNT subir ao palco, detonando um rock forte. de letras Incisivas, fazendo dançar quem estivesse no G igantinho. Unho ao som de Ana Banana e Cachorro Loca O Apartheld foi o primeiro grupo a introduzir teclados no palco. dois para ser mais exato. A música do grupo segue a linha do que fazem alguns grupos ingleses, cria climas pesados e densos. as letras revelando uma visão pessimista do mundo, que a iluminação de Gerry Marques soube bem realçar.

Meia-noite em ponto sobem ao palco Júlio Reny e a Banda Expresso Oriente. Oriente. Um músico cujo talento ainda não foi devidamente reconhecido, Júlio brindou a plateia com sucessos como Maomé e Anior e Morte. O cara deve andar bem de guitarra. pois lã pelas tantas quase quebra uma. tão frenética foi a sua apresentação. Pausa. Já era domingo quando iniciou o show da cantora convidada para o III Rock Unificado a performer Annie Perec, que deu um banho de competência e musicalidade. Acompanhada por urna banda de sete músicos. sendo que duas vocalistas nos backing vocais. Annie. trajando uma lingerie preta por baixo de uma capa Igualmente preta. fez o público delirar em Vida Animal e na pulsante Estique Durante O Meu Ensaio Eu Quase Desmaia um cover do grupo norte-americano Rum DMC.

Na medida que passavam as horas. diminuía o público no Gigantinho. É a vez do DeFalla se apresentar. com o alopra. do Edu K. metido numa minissaia. O público, nessa altura, ainda tinha fôlego suficiente para pular ao som de Sodomia e Não Me Mande Flores. Segue o Natura Neon. vencedor do VIII Festival Interno Anchletana da Canção. revelando um ótimo guitarrista. Otávio Fernandes. A massa veio abaixo quando entraram os Replicantes. um dos maiores destaques na noite. juntamente com a Bandaliera e seu rock básico. que contou com a participação do veterano Fuguet Luz nos vocais de apoio. Energia pura transbordava do palco nessa ho ra. Na sequência. vem a Frise. com sua mistura de ritmos latinos e. para encerrar a festa. o blues do Suspiram Blues. A gaita de Morelrinha parece não ter sido afetada pelo susto passado na Bolívia. Eram três da madrugada e a maratona chegava ao fim.

Quem não foi, perdeu um dos melhores espetáculo de rock do ano. Marcou.
 

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