Relicário do Rock Gaúcho

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[REVIEW] Biba, a pequena demolidora – Revista Bizz

Biba Meira conta de sua popularidade sendo uma mulher baterista, algo raro no meio musical brasileiro. Ela também comenta de suas referências musicais, seus primeiros dias como baterista e outras curiosidades. ‘Biba Meira: a pequena demolidora’, por Marcel Plasse. Matéria – Revista Bizz, junho 1988. O recorte abaixo foi transcrito para a leitura deste artigo.

Quem ouve a pancadaria peso-pesado na cozinha do LP do DeFalla se surpreende quando descobre que a encarregada da demolição é uma loirinha de 24 anos, com apenas um metro e meio de altura c 42 quilos. “O fato de eu ser mulher, ter esse tamanhinho c tocar bateria, coisa que não é muito comum entre as mulheres, realmente impressiona.” Tanto que esteve bem colocada nas votações de melhores instrumentistas de 87 feitas entre a crítica de BIZZ e pelo diário porto-alegrense Zero Hora Biba começou a tocar bateria há quatro anos. Sua entrada no show business, em 84, foi sob vaias e latas de cerveja, substituindo o baterista da banda Urubu-Rei. “Não Me Mande Flores”, gravada pelo DeFalla é considerada pela crítica uma das melhores músicas dc 87, fazia parte do repertório daquela época. Outra curiosidade: o baixista e o guitarrista do Urubu-Rei, hoje, também integram o DeFalla. “Quis aprender a tocar bateria desde os 12 anos.” Seu irmão tocava bateria A atração era fatal. Nessa época, ouvia e gostava de Genesis, Lcd Zeppelin e Yes, “bandas que têm as caixas mais P. Até hoje elas me influenciam pra c• Quando comecei a tocar, em 84, era tarada por Bill Brufford…” Agora, ela gosta de Tony Thompson, baterista do Chie, e de batidas pesadas do funk. 

Houve uma época em que chegou a tocar em cinco bandas ao mesmo tempo. “Como estava aprendendo, tinha interesse em tocar em várias bandas. Tu aprende muito mais tocando do que estudando.” Mesmo assim, não dispensou as aulas, tendo como professor, inclusive, um percussionista da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (OSPA). Até hoje, só teve duas baterias. A primeira foi uma Pingüim amarela. Atualmente, toca numa Pear! Export, que, claro, lhe tem inspirado muito mais. “Instrumento nacional é um desânimo total. Tu vê que aquela coisa não tem som… e te tranca!” Só possui um prato, “porque não tenho grana pra comprar p* nenhuma”. O outro que usa nos shows é sempre emprestado. E nunca usa mais que dois. Todos do ataque, mesmo quando a batida é de condução, pra tirar “mais barulho”. “Nunca fui muito chegada em prato”, confessa. Prefere usar tons para as complementações e viradas. Condução nos surdos. Se bem que esteja voltando ao básico: chimbal, caixa e bumbo. “Ui ficando mais roqueira mesmo.” Exige a mixagem pesada, privilegiando bumbo e caixa. “Em shows, a bateria tem que estar bem em cima, junto aos demais instrumentos e à voz.” Usa um microfone em cada peça e prefere ensaiar o mínimo possível. 

DeFalla é uma banda que ensaia muito pouco. “Mas é também porque a gente sempre tocou junto, com todas as nossas bandas paralelas ” De forma alguma ela sente saudades do tempo com que os ensaios de suas bandas duravam quatro horas e a mesma música era passada inúmeras vezes. “Um saco!” Na verdade, o único inconveniente em ser pequenina é o condicionamento físico “Quando comecei a tocar, o show costumava cair na metade, porque eu não tinha forças.” Por isso, ela precisa fazer muitos exercícios. “Quando eu tá fora de forma, dá pra notar direitinho… Eu fico pedindo água!”

Costuma fazer ginástica, com natação. Mas não deixa de lado a cerveja e os drops. “Claro que isso prejudica. Mas aí é só correr mais…” Subir no palco, porém, apenas sóbria. “Toquei bêbada duas vezes… que eu me lembre… Mas aí quebrei dois pares de baquetas…” Uma longa história. Sendo a única garota na banda, ela geralmente see pega cercada de homens falando sobre “sexo, punheta e mulher o tempo inteiro. Eu, no meio disso, vou fazer o quê? Mc divirto pra cm…” Irreverência é o quesito mínimo pra conviver dentro dc uma banda formada por notórios canalhas. Mas ainda assim há quem se choque com seu jeitinho meigo de falar tantos palavrões. “Pra c8. Mas isso é tão comum. Pra mim, mandar tomar no c* é a mesma coisa que dar um beijinho.” Apesar disso, sua reputação é de uma menina séria. “Pois é, eu não sei por quê. Talvez porque no palco e nas fotos eu esteja sempre séria fazendo estilo… Mas quem me conhece…!” 

Marcel Piasse


Fonte: Revista BIZZ, edição de junho de 1988, acervo da Biba Meira (Defalla)